quarta-feira, 14 de março de 2012

Caçuá do tempo

--- Walter Medeiros

Vivi lá pelo sertão,
No cheiro do aveloz,
Pelo espinho do cardeiro,
Vendo a boneca do milho
E a Rosinha do amor.

Nada mais belo que as pedras,
Areia, poeira seca,
O entrançado das cercas,
O colorido do mato
E os bichos fazendo som.

Na sombra do umbuzeiro
Ouvi muitos passarinhos,
Vi um luar tão branquinho
Inda menino buchudo
Levava a vida a sonhar.

Agora o sonho é saudade
Do tempo que já se foi
Dentro de um carro de boi
Trancado num caçuá
Cheio de felicidade.

Caatinga adentro encontrava
Pelas plantas do destino
A mais bela flor vermelha
E vasos com mel de abelha;
Como meu mundo cheirava!

Mas ninguém faz o que quer
Fui parar noutros lugares
E aqueles belos luares
Agora apertam meu peito
Mas fazem a minha fé.

Um comentário:

Genaura Tormin disse...

Que poema lindo! Parece falar de mim! Voltei às minhas origens. Vi-me bem pequena, trancada no caçuá, ancoretado à cela dos jumentos, para ir à "rua", no linguajar sertanejo. Que saudade dessa simplicidade bonita, de aconchego verdadeiro que pariram a minha origem lá pras bandas do sertão. Lembro-me dos marmeleiros, dos facheiros, dos umbuzeiros gigantes em terreno tão árido. Lembro-me também que a gente era contente, feliz. Tempo bom que ainda povoa as minhas lembranças.
Obrigada muito pela partilha! Amei!
Beijos da Genaura Tormin