sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A política como patranha ou de homúnculos, alquimistas e faunos

Acompanhar o noticiário político é exercer uma espécie de dolorosa experiência civil: não se vê o anúncio dos grandes gestos históricos, as decisões que ficarão para repercutir no mundo e nas gerações; ao contrário, é quase interminável o noticiário a respeito de tipos roubadores, rapaces, espertos, de grande e eloquente desonradez.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_filosofal

A Câmara Municipal de Natal é em boa parte composta por condenados, só para ficarmos nesse exemplo minúsculo. Pensando em tais elementos vem-me à cabeça a palavra "homúnculo", que o Houaiss designa como "indivíduo insignificante e/ou de caráter mesquinho, vil" ou "ser artificial que os alquimistas gostariam de ter criado". 

Observando esta última acepção chega-me também a impressão de que os homúnculos, ao contrário do que afirma o dicionário,  realmente existem, foram criados e feitos. Começo a temer, assim, que os alquimistas criaram os homúnculos, mas falharam no seu aprisionamento em seus laboratórios secretos e doutos. Sendo assim, libertos, criados e ativos, tomaram como meta de vida outro propósito dos alquímicos: a obsessão pelo ouro. Aqueles queriam descobrir a pedra filosofal, que transformaria em ouro qualquer metal inferior. 
http://virtualia.blogs.sapo.pt/34007.html

Não movia os alquimistas, pelo menos não completamente, suponho, a cupidez pura e simples: eram movidos pelo processo,pelo interesse da descoberta, a manipulação dos metais, sua transmutação. Claro, o ouro era motivo também, mas seria consequência do engenho de mentes inquiridoras. Havia, sem dúvida havia, a miserável condição humana em busca da riqueza, mas existia algo elevado a dirigir as experiências sou levado a acreditar.

Agora, quanto aos homúnculos, após escapar dos laboratórios, meteram-se no mundo social, chegaram aos tempos de hoje e prescindindo do Lapis Philosophorum, encontraram outra maneira de fazer ouro: muito simples: basta assumir um cargo público, seja por mandato ou nomeação para chegar ao precioso metal e seus sucedâneos sociais - dinheiro, papéis de valor, contas em paraísos fiscais - sem precisar se expor às cansativas experiências dos medievos alquimistas. 

Desta forma os homúnculos pululam à solta e sortidos pelos gabinetes, tramas e tribunas. Amealham fortunas, tornam-se notáveis, engendram engenharias políticas, artificiam conciliábulos e fazem leis. Assim, temos hoje toda uma fauna de faunos insaciáveis, cheios de lascívia política, espojados nos leitos fartos e nas alcovas aconchegantes. Estão todos eretos e querem poder.

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