sexta-feira, 30 de abril de 2010

Suzana em foto de Marisa Cauduro
Nova ombusaman da Folha diz que é preciso jornalismo ficar antenado com o leitor
Emanoel Barreto

O texto abaixo é da jornalista Suzana Singer, nova ombudsman da Folha de S. Paulo, em substituição a Carlos Eduardo Lins da Silva.

PARECE HAVER hoje apenas uma certeza na imprensa mundial: a de que o jornal impresso corre risco de extinção. A cada novo gadget, as trombetas do apocalipse jornalístico soam mais fortes. Neste mês, o frenesi aumentou com a chegada do iPad, capaz até de exterminar os livros.



"Para jornais, a metáfora que vem à mente é a da areia caindo na ampulheta", o tempo se esgotando, decretou relatório recente sobre a mídia dos EUA.


Esse haraquiri coletivo é, no fundo, um jogo de adivinhação inútil ao leitor. Enquanto houver jornal, o importante para quem paga por ele é que seja benfeito. E é para isso que estarei aqui.


Depois de 23 anos fazendo a Folha, colocando a mão na massa todos os dias, chegou a hora de sair de campo para observar o jogo e apontar erros/ acertos da equipe que faz o diário de maior circulação no país (considerada a média de 2009).


Assumo como ombudsman em um ano difícil, com coberturas importantes: a Copa do Mundo, que coloca a imprensa diante da encruzilhada de "criticar demais e ser vista como derrotista" ou "tecer só elogios e cair no ufanismo", e a eleição presidencial, que promete ser acirradíssima.


Em sua coluna de despedida, meu antecessor, o veterano Carlos Eduardo Lins da Silva disse que não suportaria a eleição presidencial, quando "se exercitarão com força total os piores instintos de parcela pequena mas nefasta do eleitorado engajada na guerra sectária de partidos políticos".


No que depender de mim, os "trogloditas de espírito", como descreve Carlos Eduardo, ficarão em segundo plano. O Fla-Flu político, que tem sua expressão máxima na guerra de blogs radicais, interessa a poucos, basicamente seus autores e uns convertidos que se regozijam em reiterar suas convicções.


Estou em busca do leitor silencioso, que se irrita com a Folha, mas se esquece dela antes de ter tempo de mandar um e-mail reclamando.


Em um jornal com mais de 290 mil exemplares, o leitor acaba se tornando um ente volátil, fictício, fala-se em nome dele para defender teses A, B ou C. Ou, o que é pior, sucumbe-se ao erro narcisista de ignorar quem nos lê e escrever para colegas, fontes (quem passa informações) e especialistas.


Para a Folha, ouvir o homem comum será especialmente importante nos próximos meses, quando estreia um novo projeto gráfico, com mudanças visuais e editoriais, que inclui extinção e criação de cadernos.


Participei de vários processos como esse e sei que, apesar das especificidades técnicas e das pesquisas de opinião, prevalecem em muitas decisões o "eu acho assim mais bonito" ou o "aposto que vão gostar de uma seção desse jeito". Arbitrário mesmo.


Com a ajuda de você, leitor, tentarei levar demandas reais para a Redação. Afinal, toda mudança deveria ter apenas um objetivo: deixá-lo mais satisfeito com o seu jornal.
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Já publiquei minha opinião sobre o ombudsmanato: é apenas função performativa, cujo objetivo é dar ao leitor a ideia de que o jornal tem controle interno movido por sentido ético de compromisso com a sociedade.

O jornal, ela anuncia, fará nova reforma gráfico-editorial, visando certamente adequar-se ao mercado, senão gerar mercado, já qwue o jornalismo impresso passa por crise suponho nunca vista. É preciso sim formar leitores, especialmente entre os jovens.

Como é preciso ser mais sincero o jornalismo, deixando às claras suas pretensões e apoios a determinados atores políticos. Ou você ainda não percebeu que a Folha apoia Serra?









Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, professor. Uma publicação dessa envergadura tem o leitor apenas como um dos seus interesses, em meio a tantos outros, muitos inconfessáveis. Ademais, é importante saber que tipo de leitor se pretende formar: do tipo adestrado ou aquele munido com as armas da crítica.

parabéns pelo blog.

fagner