Impedido de publicar postagens devido a problemas no meu computador volto agora, quando Obama é o presidente eleito. A eleição tem algo de essencialmente simbólico: a Casa Branca dirigida por um negro.
Não é um mero trocadilho, um drible que a história dá no segregacionismo, na exclusão, na pobreza que lá existe, e muita. Não se trata de, enfim, de uma cambalhota ideológica, uma surpresa do processo político: o que se vê é a ponta de um iceberg, a possibilidade lenta de uma mudança social e étnica. Um primeiro passo.
A ascensão de Obama é simbólica em função de outro aspecto: ele surge como uma espécie de antídoto para tudo o que a nação americana vive em seu momento histórico. Representa o recuo de uma corrente de pensamento reacionária, belicista e bronca, o declínio, pelo menos atualmente, do que há de pior na política dos Estados Unidos.
Estiolada por um governo que meteu o país em mais uma guerra, permitiu que o sistema financeiro agisse às cegas e gananciosamente, e incapaz de garantir a segurança interna com os ataques do 11 de setembro de 2001, a nação pede arreglo pelos erros e injustiças raciais e elege um negro.
Obama foi eleito sob a proteção das asas de um sonho: reerguer o país e sua auto-estima, seu orgulho imperial e seu patriotismo quase seminal; estilhaçar a crise econômica e o dilema do Iraque e fazer despertar um olhar novo sobre a presença e importância dos negros na construção do país. Isso foi o que o marketing vendeu. Isso foi o que prevaleceu. É bom que tenha sido assim, muito melhor que MacCain.
Obama, todavia, assumirá sob o peso da realidade. Do homem ideal, do líder, do condottiero, restará a figura humana que é, em si, falha e limitada. E virão, agora sim, os problemas, o mundo real, o presidente em ação.
O mundo inteiro vibrou a favor do jovem, do negro, do intelectual carismático. Agora, virá o americano, que não poderá - ninguém pode -, cumprir todos os compromissos de campanha. De qualquer forma, espera-se que se inaugure algo de novo, mais humano - aí no sentido de solidariedade ou compaixão -, para que se amenize o imperialismo e o torniquete que os americanos aplicam àqueles sobre quem se impõem.
Falando assim, parece que quem está sonhando sou eu. Vamos ver até que ponto. De qualquer forma, nessa quadra da história o futuro americano é negro. E, pelo menos isso, é bom, muito bom.
Emanoel Barreto
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