quarta-feira, 16 de abril de 2008

A casa da noite eterna

Caros Amigos,
Recebi, há uns dois, três dias, um e-mail lacônico, algo enigmático, assinado apenas por "Tereza". Ela fazia observações a uma matéria que publiquei em 2006, janeiro, dia 24. O título, "A casa da noite eterna". Então, rememorava um acontecimento que abalou Natal, quando um homem, José Vilarim Neto, por motivos até hoje nunca explicados, trucidou uma família e tentou, horas depois, matar a mãe, a alemã Ruth Looman e uma filha, ainda bem criança. Entre as vítimas, relatei haver uma empregadinha grávida, também morta por Vilarim.

Pois bem: Tereza fez as seguintes observações: Ruth não era alemã e a "empregadinha" - ela colocou a palavra entre aspas - não estava grávida e tinha 12 anos. À época, 1975, todos nós, da imprensa, fomos informados que Ruth era alemã e que a mocinha estava grávida. E assim foi publicado no Diário, Tribuna e A República, jornal que há muito deixou de circular.

Mas, meu olhar de repórter, ao ler aquele e-mail, logo percebeu que a referência à jovem assassinada, pelo fato mesmo de vir entre aspas, revelava algo como um sentimento de dor, de descontentamento, vindo uma pessoa que, de alguma forma, havia sido ofendida. Entendi tudo: o termo "empregadinha" soou-lhe, estou certo, como um depreciativo, uma adjetivação infeliz a uma pessoa simples. Uma menininha que, pela sua condição social, precisava trabalhar, prestando serviços domésticos.

Sou um jornalista acostumado às mais diversas coberturas, que já viveu as mais inusitadas situações. Procuro, sempre, usar as palavras certas, martelar no teclado como se fora um piano, onde, ao menor erro, à mais simples falha, perde-se toda a sinfonia. No caso, depois de já muito tempo, descubro que feri alguém. Toquei a nota errada no meu teclado. E feri a uma pessoa que se deu ao trabalho de palmilhar intensamente este jornal, descobrindo o que entendeu ser uma falha. E foi. Se ela sentiu-se ofendida, a composição não foi executada com perfeição.

Cara Tereza,
Agora, uma explicação: o uso do termo no diminutivo, teve exatamente o seguinte propósito: passar ao leitor a idéia de alguém muito jovem. Não foi um diminutivo que amesquinhasse sua condição de trabalhadora; mas uma palavra que, no contexto em que foi colocada, buscou dar uma idéia da juventude agredida, juventude que, circunstancialmente, era encontrada na pessoa de uma pequena prestadora de serviços do lar. Em nenhum momento, uma "empregadinha", alguém minúsculo, desimportante, dispensável, inferior.

Se você ler este texto, Tereza, gostaria que o recebesse como a expressão mais sincera de um repórter. Que já viu e ouviu, senão de tudo, mas muito do que o mundo, vasto mundo, tem a nos dar de pior e mais cruel. Até mesmo quando um repórter, na busca de fazer o certo, acaba ferindo alguém que, por motivos que desconheço, termina por sentir-se ofendida.
Um abraço,
Emanoel Barreto

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