quarta-feira, 26 de março de 2008

Poder e pudor

Caros Amigos,
A adorável Carla Bruni, cantora e ex-modelo, mulher do presidente francês Nicolas Sarkozy, volta às manchetes com a divulgação de uma foto sua feita em 1993, quando era era top model e uma das mais bem pagas do mundo. Na foto, ela não faz o extilo femme fatale; está mais para ninfeta, uma espécie de inocência postiça, um convite ao lobo-mau.


Seguinte: o casal está em Londres, em visita oficial; sua união foi formalizada exatamente para evitar problemas com o protocolo: como poderia, por exemplo, a Rainha receber em Buckingham e deixar dormir sob o mesmo teto um casal presidencial não casado? E mais: em viagem a um emirado, o chefe de governo árabe mandou claros sinais de sua insatisfação em ter sob a sombra de sua respeitável figura a visita de um presidente modernete e de sua irriqueata companheira. Então, às pressas, providenciou-se a cerimônia nupcial. E Nicolas e Carla passaram de amantes a nubentes e de nubentes a marido e mulher. Só que, agora, explode a foto, exatamente quando eles visitam a Rainha.

Então, o que proponho é o seguinte: examinar a difícil convivência entre o mundo da diplomacia e da política, com seus ademanes e regras de bom-tom, ditames e procedimentos fixados, gestualidades e casuísmos comportamentais cifrados, homenagens administradas e saudações calculadas, frente à realidade humana e falível dos mortais que ocupam, circunstancialmente os altos cargos, especialmente aqueles que, também circunstancialmente, poderão vir a ser chamados a decidir os destinos do mundo. É uma mistura de hipocrisia litúrgico-política, com a decadência inata ao homem.

So para lembrar: o governador de Nova Iorque, Eliot Spitzer, perdeu o cargo após ser descoberto seu envolvimento com uma rede de prostituição. Seu substituto, David Paterson, por precaução, já declarou que traiu e foi traído pela mulher e, um ou dois dias depois, revelou: já fomou maconha e usou cocaína. Foi uma ação preventiva, sem dúvida orientada por sua assessoria de imprensa, a fim de evitar males futuros.



Estados e Governos, sempre, cercaram as figuras de seus representantes máximos de pompa e rituais, liturgias do cargo, a fim de enaltecer sua heroicidade, representatividade e legitimidade para representar - e comandar - o comum dos mortais, a massa, a patuléia, a burguesia e as elites que os cercam. Com isso, naturalizou-se a suposição de que a tais figuras deveriam necessariamente estar impregnadas de uma situação moral personalíssima e impoluta, uma aura de respeitabilidade incontestável. Como se ali, naquela pessoa, não fervessem os mesmos sentidos, sentimentos, desejos - sempre os desejos - fraquezas e pulsões dos demais.


E então, quando ocorrem os escândalos, o mitos se desfazem, imagens se desmancham e pudor e poder se distanciam, revelando-se a condição humana dos dirigentes. Somos destinados à queda e, mesmo que não devamos nos distanciar da ética, da honradez e da moral, é preciso saber que os atos das pessoas públicas, quando não interferem em seu desempenho, em seu papel de dirigente, legislador, o que seja, é unicamente uma questão pessoal. Tudo bem que as coisas de jornal alardeem a falta de pudor. Mas, insisto, pudor e poder não são as duas faces da mesma moeda. Não, em se tratando de vida pessoal. Mas, por precaução, é melhor evitar o falariço...
Emanoel Barreto
Foto: AP
*A Foto, segundo o Estadão Online, será vendida em leilão, para o qual se espera lance máximo de quatro mil dólares.

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