quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Tristeza não dá samba

Caros Amigos,
A Justiça do Rio proibiu o desfile de um carro alegórico da Unidos de Viradouro, que seguiria pela avanida cheio de esculturas representando judeus chacinados pelos nazistas. Mesmo admitindo-se as boas intenções do carnavalesco, convenhamos: carnaval não é o espaço apropriado para uma crítica desse tipo, especialmente se se utiliza o recurso impressionista de figuras esquálidas amontoadas, como efetivamente aconteceu e foi registrado pelos Aliados.

Isso somente fará reacender a memória da brutalidade, a sensação de sofrimento. Pior: poderá parecer, de alguma forma, escárnio, deboche com quem tanto já sofreu. Como eu vou reverenciar mortos em meio a uma festa - belíssima, indisutivelmente -, feita de libido, narcisismo, explosões de egolatria e fausto? Só um louco para pensar nisso como reverência.

Liberdade de expressão precisa ser exercida com bom senso: a sátira, a caricatura, o texto dionisíaco e sarcástico, quaisquer alusões críticas a pessoas ou fatos, são perfeitamente aceitáveis, desde que instituídos em suas formulações sociais exatas. E o carnaval não é o lugar escolhido pela tristeza, para instalar-se com seu vale de lágrimas. Tristeza não dá samba.
Emanoel Barreto

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