Caros Amigos,
Quando o Brasil era criança, era um menino muito levado. Tanto, que chegou a surrupiar do Saci Pererê seu chapeuzinho vermelho e saiu por aí, todo lampeiro. Mamãe Brasília, a conselho do preguiçoso Papai Macunaíma, disse ao menino: "Meu filho, não ande pelo caminho da floresta amazônica, pois lá é perigoso. Lá vivem os Lobos Maus, o Papai Lobão e o filhote Lobãozinho."
Mas Brasil era danado e largou-se um dia a andar pela floresta amazônica, quando ia levar doces para Dona Benta, sua Avó, que morava no Sítio do Picapau Amarelo, mas que, por uns meses, estava na Chácara do Torto. Brasil podia ter ido pelo Rio, mas por lá havia muito tiroteio, que nem mesmo o Bope estava conseguindo dar conta. Por São Paulo nada, a poluição do Tietê, o trânsito demencial que enlouquece aquela pobre cidade, o fizeram desistir.
Na verdade, Brasil não tinha mesmo como escapar. Pelo Nordeste também não dava para ir, pois a seca estava rachando a terra, o povo em fome e os políticos ganhando dinheiro e voto com as levas de pessoas que pediam água. Brasil, como estamos vendo, mesmo sendo traquinas e gostando de pilantragens - opa! eu queria dizer peraltagens -, não tinha outro caminho a seguir e meteu-se pela floresta.
Logo que chegou lá, foi recebido a tiros por grandes proprietários, que devastavam a mata para plantar soja. Mais adiante, bala de novo: agora eram garimpeiros, que poluíam rios com mercúrio, atrás de ouro, muito ouro. Mais na frente, mais tiro: grupos criminosos cortavam troncos centenários para transformar em madeira de lei. Vamos ficar por aqui, que senão eu não paro, pois quero mesmo é falar sobre o que interessa: os dois lobos da floresta.
Depois de muito caminhar, Brasil afinal chegou ao Torto. Ia dar um grande abraço na Vovozinha, entregar os doces, passar a noite lá e voltar para casa, feliz da vida.
Pois bem, chegando à Chácara do Torto, Brasilzinho ouviu mesmo foi um grito enorme, desesperado, louco. Os Lobões estavam atacando a Vovozinha, Meu Deus! Brasil ficou sem saber o que fazer: o Papai Lobão gritava que queria seu espaço político, era muito forte e coisa e tal; o Lobãozinho dizia que aquela história de que devia 5 milhões e 500 mil ao fisco era balela e que ele ia provar que era um homem, quer dizer, um lobo bom.
A Vovozinha Dona Benta não aguentava mais: para onde ela ia, os lobões iam atrás. Brasil estava perdido, atônito, quando ouviu a velha canção:
Nós somos os caçadores,
E nada nos amedronta,
Damos mil tiros por dia,
Matamos feras sem conta.
Pronto, Brasil ficou felicíssimo e pulou para dentro da casa da Vovozinha. Agora, estavam salvos. Os caçadores estavam chegando. Os Lobões seriam afastados e a paz voltaria à vida da Vovozinha. Abraçaram-se. Até ensaiaram cantar "Pega eu, que eu sou ladrão", em homenagem a Bezerra da Silva. Mas, nisso, os caçadores chegaram, se apresentaram e... anunciaram o assalto... Agiam em parceria com os Lobões e queriam tudo. Vovozinha desmaiou. Brasil foi seqüestrado e até hoje estão pagando o resgate. Mas, eles não o libertam nunca...
Emanoel Barreto
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