Caros Amigos,
Aqui, no coração de Minas, estou num retiro feito de natureza e paz. Os pássaros cantam suas canções de pios, enquanto o sol, preguiçoso, se esconde e se recobre com o lençol da noite, dando lugar a um silêncio manso. As estrelas tecem no céu sua sinfonia de pingos de luz.
Estou com Terezinha, Minha Mulher, na casa de Geraldo e Maria. Casa grande, tão grande que parece um labirinto, habitado por um aconchego que só se encontra nas Gerais. Maria, irmã de Terezinha, é a matriarca de um clã que se construiu ao longo do tempo e traz plantada em si a força misteriosa que vem das montanhas, encanta o olhar e deixa longe o pensamento. Geraldo, o patriarca, caladão em seu silêncio de mineiro caprichoso e ligado à terra, é um grande abraço a nos receber.
O motivo de nossa vinda, assim como e de muita gente mais, é uma festa grande, já se aprontando para acontecer sábado que vem. Com frango, quiabo, angu e torresmo, como manda o melhor sabor das Gerais.
Uma coisa não posso esquecer de lembrar: o Tempo, aqui, parece que tem vergonha de passar. Pede licença, se embrenha pelos cantos, fica escondido e anda de mansinho.
Aqui, o Tempo já sabe, é proibido ficar velho depressa. E quando alguém envelhece, tem guardado bem forte na lembrança, que ainda é moço na força do viver.
Aqui, eu descobri, o Tempo passa devagarinho, que é para dar à Vida mais direito de ser vivida.
E é nesse clima bom que, sábado, quando a familharada estiver reunida na festa, viola pra todo lado, gente cantando feliz, vamos viver mais um pedaço de Vida, como quem faz uma colheita boa.
Fica aqui o meu abraço. Que venham e cheguem logo os filhos, os genros, as noras, netos, primos, tios, tias, parantes e aderentes, amigos e agregados. Venham com suas cantigas, que a festa, aqui, começa antes de começar.
Emanoel Barreto
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