Caros Amigos,
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, acionou sua assessoria de imprensa para se desculpar, após o caso da menina que foi seviciada em uma cadeia onde ficou mais de um mês presa, entre 20 homens. Na edição de hoje da Folha de S. Paulo, na seção Tendências e Dabates, ela explica que herdou um Estado em condições que me pareceram falimentares, ao que ela diz, especialmente no setor de segurança pública.
No viés disso tudo utiliza, como argumento para a brutalidade sofrida pela criança, que as cadeias estão superlotadas, que há 12 anos não se faz concurso público para admissão de novos servidores setoriais, há um enorme rombo de déficit nesse segmento e mais isso, aquilo e aquilo outro.
Ou seja, seu antecessor, cruel e insensível - e deve ser mesmo -, legou-lhe uma herdade maldita, que ela não teve tempo, ainda - ainda? - de pelo menos tomar conhecimento, na plenitude, de suas condições molestas.
O argumento, velho e fácil, vem a calhar, ao lado das costumeiras promessas de "enérgicas providências" em favor de soluções para os dantescos problemas e - que gesto belo -, amparo à família da menina e dela mesma. Bom, quanto a isso, isso é o que vamos ver.
Mas, se o antecessor foi mesmo um arrasa-quarteirão e deixou o Estado à míngua, por que ela, que representa pretensamente a vanguarda do povo, é defensora dos direitos humanos, é feminista e batalhadora, vanguardeira e resoluta, não tomou a simples providência, ainda ao início do seu mandato, de instalar uma comissão para apurar a situação do quadro penitenciário do seu Estado? E, depois disso, promover reformas urgentes?
Simples assim? Simples assim. Só que não foi feito. A verdade é que a governadora somente tomou conhecimento dessa situação, que ao que parece não é pontual, através da imprensa. Daí o pânico, a vergonha, a necessidade de se arranjar uma desculpa de última hora, a demonstração de indignação, como se fora ela ainda uma opositora.
A indignação deveria ter sido demonstrada logo ao alvorecer do governo. Com a denúncia do estado de miséria e abandono das instituições. Com o flagrante de abusos. Agora, o discurso falsamente humanista somente revela a farsa improvisada e feia. O negócio é o seguinte: como o presidente Lula, ela também não sabia de nada...
Emanoel Barreto
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