Caros Amigos,
Transcrevo abaixo o editorial de hoje da Folha de S. Paulo a respeito da realização da Copa do Mundo no Brasil. Acho que foi redigido por alguém que desconhece completamente a realidade do País ou então por algum seráfico e pio jornalista, que acredita nas boas intenções dos políticos.
Veja só:
A Copa e as contas
O BRASIL, candidato único, deve ser oficializado hoje em Zurique como o país-sede da Copa do Mundo de 2014. Mais de seis décadas após o desastre de 1950, quando a seleção nacional perdeu a final para o Uruguai em pleno Maracanã, o país voltará a ser palco da principal competição futebolística do planeta.Trata-se de uma boa notícia. Eventos do porte da Copa são uma excelente ocasião para fazer negócios, incentivar o turismo e obter investimentos em infra-estrutura.
Alguns desses ganhos permanecem mesmo depois de encerrada a competição. É o caso de uma linha de metrô que se construa ou da popularização do Brasil como destino turístico.Só que as oportunidades também podem dar lugar a um pesadelo. Serão certos os danos à imagem do país se cenas de caos aéreo se repetirem durante a competição, por exemplo. Além disso, persiste também o risco de a Copa, a exemplo do Pan 2007, converter-se numa maratona de prejuízos para o erário.
A diferença entre êxito e fracasso está no planejamento. Para que a competição seja um sucesso e os gastos públicos produzam resultados duradouros, é preciso antecipar os pontos fracos e tomar as medidas para saná-los. Muitas exigem um prazo de maturação de anos.Lamentavelmente, o histórico do país e o do governo são ruins. Basta lembrar que a administração Lula assistiu inerte a pelo menos dez meses de tumulto aéreo antes de adotar medidas que parecessem uma atitude.
Também está fresco na memória o Pan 2007. Originalmente orçado em R$ 414 milhões, a maioria em recursos oriundos da iniciativa privada, o custo do evento foi multiplicado por nove: R$ 3,7 bilhões, tudo pago pelo contribuinte. A Copa do Mundo é uma competição muito maior do que o Pan. Se não houver controle, os quase R$ 4 bilhões parecerão brincadeira de criança.E o Brasil já entra no gramado com o pé esquerdo.
O relatório da Fifa que o recomenda como sede parece muito mais um "press-release" do que o resultado dos trabalhos de uma comissão que esteve no país. Não são mencionadas cifras de investimentos necessários. Informalmente, fala-se em R$ 400 milhões para o comitê organizador e R$ 1,1 bilhão para a renovação dos estádios. Difícil acreditar.
A Alemanha gastou mais de R$ 20 bilhões na Copa de 2006. E o presidente Lula, que lidera a caravana de políticos que foi a Zurique celebrar a "conquista" brasileira, já advertiu que não pretende poupar gastos na Copa.A torcida brasileira -pela importância do futebol no país e pela tradição da seleção pentacampeã- merece uma Copa no Brasil. Mas o evento só se justificará se marcar uma mudança na atitude de dirigentes e autoridades. É preciso prestar contas e minimizar o gasto público.
PS: pela falta de energia, pela falta mesmo de opinião (editoriais necessariamente devem ser opinativos, críticos), acho que a Folha, querendo passar a idéia de um jornal ponderado, perdeu a oportunidade de denunciar a falta de respeito para com as contas públicas e para com a cidadania.
Emanoel Barreto
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