Caros Amigos,
Redigir é um ato que demanda esforço. Não o empenho físico que alguém tenha que despender para empurrar um piano, por exemplo. Mas esforço até mesmo para encontrar a assunto - e isso, é claro, é bastante subjetivo. Varia da temática, do estilo, da visão de mundo do repórter.
Hoje, vejo nas coisas de jornal que um cientista que ganhou o Nobel de medicina disse que os negros são menos inteligentes que os brancos, o que explica o atraso socioeconômico da África; no Rio, doze são mortos em um confronto com a polícia, incluindo-se uma criança entre as vítimas; na França, o presidente anuncia seu divórcio; em São Paulo, as prostitutas estão faturando muito com a presença do circo da Fórmula Um.
Aí, alguém se pergunta: e não há assuntos de sobra?
E eu respondo: há?
Qual desses acontecimentos são em si mesmo novidades? Todos eles contêm alguma parte da insânia humana, nossas misérias, perplexidades, medos, cupidez, contra-sensos; tudo coisa que de alguma forma é parte do cotidiano.
Não deixo de lamentar o infeliz raciocínio do cientista, nem o espetáculo de barbárie no Rio, ou os demais acontecimentos que elenquei. Mas entendo que isso já se tornou lamentavelmente parte da nossa cotidianidade, e há séculos.
Há séculos o homem repete a sua tragédia, geração após geração, ato após ato, modificando-se apenas as circunstâncias históricas em que se desenrolam seus dramas: em essência, nossa vida é a mesma, escura e incerta.
A humanidade caminha tateando.
Amanhã eu volto. Mas as coisas de jornal serão as mesmas. Pois os bárbaros, os tolos, os loucos felizes, os monstros e os afáveis estarão nas ruas, cada um cumprindo seus passos de viver.
Emanoel Barreto
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