Caros Amigos,
Encontrei-me hoje com o meu velho amigo Abdon. Não o via há anos. Aposentado, resolveu isolar-se numa pequena comunidade praieira e ali vive com o básico.
Foi um exílio calmo, decidido com a chegada da lucidez dos 60 anos. Barba crescida, pele crestada pelo sol, dedica-se a ajudar os pescadores uma vez ou outra, para passar o tempo, ou a sorver intermináveis doses de cachaça em meio àquela gente simples.
Não quer saber de rádio, TV ou jornal. Internet, nem se fale. Logo ele, que foi tão bom repórter lá pelos lados do Rio e São Paulo. Quis saber se ele estava desencantado. Não, não estava. Apenas decidira mudar. E mudar significou juntar a aposentadoria, vender alguns bens e passar a viver com o que isso lhe rende por mês.
Não quis filosofar, não quis dar-me maiores explicações. Apenas disse que parou e pronto. Depois, deu-me um abraço, não me revelou onde está morando e sumiu-se. Antes de encantar-se em meio às pessoas, perguntou:
- Vale a pena?
Emanoel Barreto
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