quinta-feira, 7 de junho de 2007

Grupo de elite se reúne para aplaudir as prostitutas

Na sociedade de consumo, dependendo do lucro que possa dar, até mesmo comportamentos de grupos marginais podem ser absorvidos/absolvidos e enfeixados em grifes e fama decorativa, passageira, volátil, e com alguma lucratividade.

É o caso da marca Daspu, criada pela ONG Davida, que reúne prostitutas com o objetivo de criar uma consciência de grupo, um sentimento de pertença e de auto-estima através da moda, roupas inspiradas nas peças que as mulheres usam quando estão, como dizem elas, na batalha. A intenção é boa e já começa a ser estudada pelo sistema de lucro, esquadrinhando o mercado. Se der, deu...

Noite passada, em paralelo à Fashion Rio, a marca Daspu promoveu desfile de prostitutas e travestis numa livraria e um bom público aplaudiu. Aplaudiu,certamente, o inusitado. Afinal, pessoas bem-pensantes, gente cabeça, jamais iria negar umas palminhas às moças. É de bom-tom, politicamente correto, atirar aplausos às causas dos desvalidos, gauches e assemelhados.

Mas, daí até à aquisição de alguma roupa provinda da marca, suponho que haja uma grande distância. Rapazes e moças de classe média, é verdade, usam calças jeans que vêm de fábrica "rasgadas" ou "desbotadas", para dar a falsa impressão de roupas velhas, utilizadas por um usuário despojado. Há um certo ar falsificado de casualidade blasé, uma impostação comprtamental.

Mas entre a moda blasé e a moda Daspu vai uma distância abissal. A primeira reafirma as condições de classe, o poder econômico charmoso de pessoas que podem esbanjar dinheiro - essas roupas são caríssimas; a segunda afirma uma posição, uma situação sócio-econômico-grupal marginalizada. Assim, migrar de uma roupa de grife internacional para uma marca brasileira e ainda por cima criada por prostitutas, teria o significado de adesão a uma causa, engajamento e... pertencimento. Não creio que haja tal possibilidade.

As intenções da ONG são boas, mas há um impeditivo social a demarcar territórios e grupos. A fronteira é invisível, mas mantém - é isso mesmo - cada um em seu lugar.

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