terça-feira, 24 de abril de 2007

A toga enxovalhada

O anúncio do envolvimento de magistrados do mais alto escalão do Judiciário em formação de quadrilha e recebimento de propina estarreceu o país e, de alguma forma, degradou a imagem da instituição, atingindo sua legitimidade de guardiã da justiça e da honradez.

Ao todo, doze magistrados estão indiciados. E espero que a Polícia Federal leve adiante e aprofunde as investigações, punindo-se todos os que forem evetivamente pegos em culpa. Entretanto, os doze magistrados envolvidos são número insuficiente para que se atribua a todo o Poder a lama em que aqueles estão chafurdando.

Mas, se o número é ínfimo em relação à totalidade da magistradura, esse tipo de corrupção é significativamente indicativa de que o processo de malversação dos valores éticos e morais na sociedade brasileira está mais forte e pulsante do que nunca.

Ou seja: a corrupção, que parecia endêmica ao Legislativo e ao Executivo, pode ser claramente percebida no Judiciário. Mais claramente: há um clima, um caldo cultural neste país, que favorece a prática de crimes envolvendo privilégios da ocupação de funções públicas, tudo sob uma sólida suposição de impunidade. Há uma microfísica da corrupção, que se espalhou por todos os Poderes.

Instaurou-se no Brasil, ao longo do nosso processo histórico, a política do jeitinho, a facilitação cavilosa de proteção e desculpa aos atos e erros de amigos e familiares. Ainda somos, tenho certeza, o país do nepotismo, dos favores e do prestígio mal-intencionado. A coisa pública serve de negócio aos empreendedores do crime sutil e educado dos que têm o Poder na mão.

Vamos ver o que acontece com os magistrados que estejam com a toga presa às engrenagens de tenebrosas transações. O Judiciário não é um Poder acima dos demais Poderes. Pode e deve ser transparente e visívei em sua internalidade. A respeitabilidade de seus membros não deve servir de manto ocultador de falhas e crimes.

Os juízes em culpa serão julgados pelo mesmo Poder que integram. Qual será a sua sentença? A opinião pública está em choque e cobra satisfações.

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