terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Novas e tenebrosas transações

Por obra desses mistérios informáticos, deixei, por alguns dias, de atualizar o blog. O comptador simplesmnte parou de funcionar, encheu-se de riscos no monitor e depois recusou-se terminantemente a colaborar. Resultado: parei. Enquanto isso, o tempo não parou e o Brasil continuou pródigo em acontecimentos noticiáveis: o presidente Lula deu anúncio ao PAC; bandidos se vestiram de policiais federais, atacaram, roubaram o dinheiro que queriam e conseguiram escapar; a Força Nacional de Segurança chegou ao Rio e os bandidos continuam a agir, ligeiros que só eles; resgataram-se dos escombros da cratera de São Paulo os corpos das vítimas da profunda tragédia; a mãe que queria matar o seu bebê de dois anos afogado foi condenada; os jornais informam que há articulações para anistiar Roberto Jefferson e José Dirceu; o BBB-7 continua a atrair o ócio e a tolice institucionalizados; a "Grande família" virou filme e, alegria, alegria, vem aí o carnaval.

Mas, pelo inusitado, chamou-me atenção, hoje pela manhã, a publicação, no Bom Dia Brasil, de uma rápida seqüência de fotos:uma mãe, em São Paulo, atirou-se às águas de uma represa, sem saber nadar, para salvar o filho que se afogava. E salvou.

De pronto, formou-se em minha retina uma imagem de Brasil: suas controvérsias já bem elucidadas no parágrafo anterior, seu painel de confrontos, desvios morais na política, desencantos e perspectivas duvidosas.

Aquela mulher, já idosa, frágil, saltando em águas com quatro metros de profundidade, na tentativa incerta de salvar o filho ou morrer com ele, funcionou, para mim, como uma síntese lancinante da tragédia brasileira.

É essa a imagem do Brasil: o brasilzinho do povo largado à própria sorte, a patriazinha que caminha a passos incertos nas filas do SUS, na dor dos doentes dos postos de saúde, das escolas públicas que funcionam mal, do menino que recolhe latinhas de cerveja para reciclar.

Aquela mãe pobre e seu heroísmo suburbano, reconhecido apenas pelas fotos sensacionalistas, merece estar em paz com o filho que, certamente, espera tenha um futuro melhor que o seu. Pelo menos está vivo. Já é um consolo.

Enquanto isso, no silêncio sussurrante da política, murmúrios tramam a volta de dois cassados por corrupção. Esses não mergulham em águas profundas e furiosas. Antes, repousam calmamente e sabem que um dia estarão, de novo, no timão do navio que os levará a bom porto. Lá haverá, sempre, novas e tenebrosas transações.

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