quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Lula só irá ao debate se estiver "glacial"

"Silêncio - aquela insuportável réplica."
Autor desconhecido

O Jornal do Brasil traz em manchete: "Debate não está nos planos de Lula." Na abertura da matéria o jornal informa que, nos bastidores da entrevista de ontem à TV Record, o Presidente teria afirmado que somente participará do debate se "estiver glacial". O jornal conta também que o comando de campanha não teme sua presença no confronto a ser promovido hoje à noite pela TV Globo.

O motivo é simples, a coordenação de campanha entende que os votos em Lula já estão cristalizados e o debate não trará qualquer mudança maior na preferência do eleitorado.

Também se avalia que os demais candidatos correrão riscos, especialmente Alckmin, um político conservador, cuja biografia sequer pode ser comparada à do presidente, que em seus tempos de operário e líder sindical representou para milhões de brasileiros a imagem perfeita do trabalhador consciente e combativo.
E o PT, a encarnação da deusa Vesta: um partido de homens e mulheres impolutos e implacáveis para com os corruptos e velhacos de qualquer espécie.

Quanto a Alckmin, terá que ser chamado a dar explicações sobre a crise da insegurança em São Paulo, estado que governou.

Mas o tempo passou, Lula não é mais o mesmo e o PT é o que se está vendo todo dia. Mas o Presidente tem um capital simbólico muito bem construído ao longo da história. Seus marqueteiros, desta forma, confiam em sua capacidade de entrar na arena da Globo.

Lula, é verdade, deverá submeter-se à fuzilaria dos concorrentes, que deverão cobrá-lo a respeito da corrupção que se tornou endêmica ao Partido dos Trabalhadores, mas certamente terá como responder. Todo candidato bem assessorado tem como responder às mais agressivas indagações. Com evasivas ou questionando também o passado do oponente, todos têm como responder.

Assim, se Lula estiver "glacial" deverá comparecer hoje à noite à Rede Globo, num programa que deverá bater todos os níveis históricos de audiência. A cúpula da campanha, mesmo admitindo que o debate representa um risco para todos, está dividida, diz mais adiante o JB: quem é contra diz que se o enfrentamento não implicará perda de votos, não haveria motivo pelo qual o Presidente se devesse expor a um estresse desnecessário.

Os que apóiam sua ida usam o mesmo argumento, só que invertendo sua polaridade eleitoral: como Lula nada perderá, bem que poderia participar. Afinal, poderia responder a todo o Brasil, ao vivo, às acusações que pesam sobre a corrupção que grassa no PT.

Quanto aos outros dois candidatos, Heloísa Helena e Cristovam Buarque, são livre atiradores. Ambos de passado limpo e presença histórica irretocável, terão oportunidade de não apenas questionar a credibilidade de Lula e do PT, como também de ganhar mais alguns votos, quem sabe.

Na verdade, esse confronto pode ser uma caixa preta. Em matéria de comunicação de massa não há nada de definido. Comunicação é um processo, opinião pública é algo difuso e mutável. O debate terá amplas e profundas repercussões, a literalmente, poucas horas da eleição. Vamos esperar: alea jacta est.

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