quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Estão fazendo a radiografia da alma

Por causa de uma torção no ombro, fui parar hoje de manhã no Instituto de Radiologia de Natal. Ao chegar à sala de recepção, um som belo e sinuoso se espalhava: não entendi direito até que vi: ao fundo da sala, um grupo de chorinho tocava deliciosamente.

Eram três senhores, já sessentões. Um no bandolim, outro no violão e o terceiro fazendo a marcação com o pandeiro, essa pequena bateria portátil que o brasileiro toca como ninguém. Continuei estranhando aquilo, até que fui atendido e perguntei à jovem recepcionista por que aquele som. Ela explicou que, toda quinta-feira, os músicos comparecem e tocam. Creio que a apresentação dura umas duas horas.

É um espetáculo minimalista de música popular brasileira. Eles sentam-se em cadeiras no meio dos clientes e tocam suas suaves e às vezes tristes melodias. Afinal, o nome já diz: chorinho. Encantou-me a idéia e prometi voltar lá na próxima quinta-feira.

Não apenas pela humanização no atendimento que o espetáculo traz até aos pacientes, o que me prendeu mesmo foi que, sem querer, aqueles médicos conseguiram radiografar a alma das pessoas. Magnífico.

Sensibilidade, boa vontade, intenção de dar à medicina um cunho mais humano, aliás esse seu verdadeiro cunho, creio que foi isso o que motivou a decisão de convidar os músicos. Continuem assim.

Acho que quinta-feira vou mesmo aparecer por lá. E se os médicos mandarem servir cerveja, estejam desde já certos de que toda semana encontrarei uma dor, mesmo que seja dor de cabeça, para ser radiografada.

Mas a minha alma, essa sim, é que estará cintilando lá dentro. E o coração, esse pandeiro, estará seguindo o compasso daquele espetáculo tão simples e tão grandioso. Generoso e intensamente repousante. Por favor, agora toquem Pedacinho do Céu...

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