segunda-feira, 14 de agosto de 2006

O crime organizado segue a "Lei de Gérson": leva vantagem em tudo

"O jornalista não tem
amigos ou inimigos."
James Reston

O seqüestro do jornalista Guilherme Portanova, da Rede Globo, libertado após ficar 30 horas em poder do Primeiro Comando da Capital é o demonstrativo maior de que a cada dia cresce o poder, a ousadia e a capacidade intimidatória do grupo criminoso.

Utilizando-se de táticas de terrorismo, os bandidos exigiram a veiculação de um vídeo em que reclamam do sistema penitenciário brasileiro e deixam bem claro que estão dispostos a tudo, para manter-se em situação de impor terror e pânico.

O crescimento do crime organizado no País indica claramente que a situação está assumindo proporções protopolíticas e o PCC, na verdade, já atua como um partido político marginal, uma aberração que estende seu potencial destrutivo e invade o cotidiano, distribuindo angústia e medo.

A mensagem veiculada pelo PCC através da Globo dá claramente o indício de que o PCC tem rudimentos de um discurso político e se prepara, de alguma forma, para ações no plano ideológico, aliando armas e palavras. Com certeza atrairá a seu favor setores da sociedade que se identificam com a defesa dos direitos humanos, que justificarão, senão o uso das armas, pelo menos a intenção do discurso.

Ante a omissão das autoridades, que aparentemente não têm qualquer plano nacional para o combate do crime organizado, é bem possível que esse fenômeno venha somente a crescer, afinal se cristalizando e firmando raízes neste País.

James Reston, na citação feita, não era nenhum ingênuo. Sua frase aduz tão-somente à objetividade do jornalista, quando está cumprindo com seu dever profissional: buscar uma atitude de equilíbrio e colocar a público aquilo que seja contra o público; mesmo que isso lhe custe denunciar um amigo.

O jornalista, sim, tem amigos e inimigos. O bom jornalismo tem como inimigos a corrupção, o crime sob todas as suas formas, a brutalidade, a exploração, o homem enquanto lobo do homem. E muitas vezes tem pago caro por isso: a morte de Tim Lopes ainda ressoa na memória, o caso do repórter da Globo está aí para provar.

É lamentável mas, no Brasil, seguindo a 'Lei de Gérson", o crime está levando vantagem.

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