sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

O terror como espetáculo

"A beleza é uma
forma de genialidade."
(Oscar Wilde)

Tanto quanto produzir efeitos danosos, material e humanamente falando, os atos de terrorismo têm por objetivo funcionar como discurso, amplificado e reproduzido pela mídia. Daí porque o 11 de setembro de 2001, o atentato ao metrô de Madri, as explosões de homens-bomba em Israel. A lista seria enorme. Para o terrorista, é preciso que o fato literalmente exploda na TV, na manchete jornalística, no visor da Internet, a fim de que o atentado esteja plenamente consumado. Sem a publicidade, o efeito rumoroso da bomba inexistiria. O terror, para si e para os outros, é a mais terrível forma de espetáculo midiático.

É preciso que o ato obtenha o efeito social maior que é exatamente esse: aterrorizar. É preciso levar pânico, incerteza, temor, insegurança, expectativa angustiante a respeito de quando haverá uma nova e insidiosa agressão. E mais: agressão que atingirá inocentes, pessoas que seguem seu cotidiano, alguém que apenas vai passando e morre pela explosão de uma bomba. O terror precisa dizer: eu não tenho medidas, não tenho limites éticos, compaixão ou racionalidade.

E o jornalismo diz: eu preciso informar, as pessoas têm o direito de saber o que está se passando. Assim, firma-se um conjunto comunicacional de, literalmente, alta potência: o atentado e a sua apresentação via meios de comunicação de massa. Quando chegamos a esse aspecto, vale uma reflexão, uma vez que os efeitos perversos do terrorismo se expandem exatamente pelo jornalismo quando este, na missão de informar, termina servindo de haste complementar ao atentado.


E o pior é que não há como calar. É preciso anunciar o atentado. O grito da imprensa, mesmo funcionando, segundo a ótica terrorista, como sinete de que novos gestos brutais virão, é também a denúncia da violência como instrumento político traiçoeiro e cruel.
A mídia, hoje, assumiu um papel de relativa centralidade nos processos sociais, a ponto de incentivar o surgimento ou cancelamento de atos de repercussão nos mais diversos campos. Os constantes atos terroristas são uma prova disso. Por outro lado, quando o presidente George W. Bush saiu de seu imobilismo ante a tragédia dos moradores de Nova Orleans, negros em sua maioria, terminou por cancelar sua omissão, ante as reprecussões negativas.
Sabedores de que o jornalismo funciona, transversalmente, como mais uma peça no encaixe de seus planos, os terroristas se articulam a fim de tirar proveito.
O que foi o 11 de setembro de 2001, senão um grande discurso? O discurso da força e um discurso de mídia. Ficou dito naquela data que os Estados Unidos não são invioláveis, ficou claro que é possível atacar a maior potência do planeta em seu próprio território.
As torres representam o capitalismo, o Pentágono o poderio militar e a Casa Branca o sentimento de pátria, a ofensa à home land. Nada disso foi por acaso. E nada será por acaso, quando de novos atentados, como vemos diariamente no Iraque.
No Oriente Médio, a eleição de radicais islâmicos tem trazido expectativas negativas
quanto ao relacionamento da Autoridade Nacional Palestina com Israel, que se recusa e conviver com um governo que classifica como acolhedor de terroristas.
De outra parte, não há como o jornalismo silenciar, pois o silêncio terminaria colaborando com o terror.

Na verdade, estamos falando de uma realidade complexa, de muitas faces e outras tantas interligações. O jornalismo não é um dado de mundo isolado do mundo, como uma casinha lá nos mais distantes sertões. O jornalismo é parte de um intricado processo social e, como tem por missão relatar o mundo, acaba sendo absorvido pelos fatos que re-trata, como num doloroso e contínuo moto perpétuo.







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