A cultura jornalística prefigurou ao longo do tempo situações, perfis e circunstâncias que se encaixam como fatos noticiáveis, ou seja, fatos que são passíveis de divulgação em decorrência de preencher aspectos como novidade, raridade, impacto que pode exercer sobre a opinião pública. Dentre tais acontecimentos destacam-se os atos de corrupção, que, comumente, envolvem elementos ligados ao governo ou instituições oficiais, muitas vezes em conluio com gente da iniciativa privada.
Corruptos e corruptores são como as duas faces de uma mesma moeda; um não existe sem o outro. Um aspecto de relevância na corrupção é o alto status profissional dos envolvidos. São pessoas que, por sua própria situação pessoal e profissional a princípio não precisariam buscar a locupletação através dos dinheiros públicos, o que aumenta a indignação da sociedade. Acrescenta-se a isso outro aspecto de relevo, a impunidade. Não são poucos os casos de CPIs que resultam em nada. Os relatórios finais ou são inconclusos ou apontam cinicamente para o inocentamento dos implicados.
Então, num país como o Brasil, onde a corrupção quase que faz parte da cultura política nacional, porque notícias sobre corrupção mantêm-se tanto tempo no noticiário, uma vez que a raridade é essencial a um acontecimento para que este vire notícia? Isso se dá em função de um dado bastante peculiar: as seguidas denúncias de corrupção evidenciam que esta chegou a uma situação endêmica e, portanto, insuportável. Ganha assim status noticiável em função de que, paralelamente a isso, toda uma população permanece ganhando salários miseráveis, há uma inominável burla às leis trabalhistas e exige-se do povo cada vez mais.
O jornalismo, desta forma, precisa e deve estar atento aos atos de corrupção. Todavia, há um problema a ser questionado, agora no âmbito dos jornais. Como os salários pagos à categoria são expressivamente baixos - estou usando essa expressão para não usar termos mais fortes - o jornalista vê-se jogado à necessidade de busca de um segundo emprego, para complementar a renda familiar. É aí que entra a matreirice de políticos e outros quejandos, quando assalaria um profissional, como forma e meio de, a partir daí, obter visibilidade positivada no jornal onde este atua.
Cria-se assim uma situação cínica: o jornalista passa a ser uma espécie de contrabandista de informações. Muitas vezes nem redige a matéria sobre seu "assessorado", mas pede a um colega que o faça. É como um desencargo de consciência vesgo, ou seja: "Eu não fiz a matéria, outro a fez. Assim, não feri a ética profissional." Os jornais conhecem essa prática e a admitem na internalidade das redações, conciliando interesses, ajeitando entendimentos, enfim garantindo também para si uma parte desse mercado, pois jornais são empresas e políticos, por sua vez, também podem ser grandes anunciantes, empresários, etc...,etc...etc...
Esta é uma situação crônica, mas que precisa ser revertida via melhoria de salários, ampliação do mercado de trabalho, surgimento de novas oportunidades. Senão, como frisei jornais são ampresas e políticos, por sua vez, podem ser grandes anunciantes, empresários, etc..., etc...etc...
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