A crise na política; o povo da bandeira suja
Quando eu era criança o Brasil representava,
na minha ingênua compreensão, a “pátria amada, salve, salve”, a expressão exata
do nosso hino.
E lá vinha o sol saindo bem por trás
da bananeira; não era lua não era nada. Era a bandeira brasileira – linda e
florestal, materna e tremulante. Para completar, o Brasil era o país do futuro.
E o futuro era solar e lindo.
Hoje o Brasil está exposto. Afinal
o país foi exposto. E tudo o que vivia escondido, movimentando-se nos esconsos sórdidos
da política e seus periféricos aparece agora como sempre foi: tudo intensamente
lastimável, as instituições expostas em suas práticas imorais, tão antigas quanto
nossos quinhentos anos.
Você vê ladrão quando olha pra
frente/ você vê ladrão quando olha pra trás dizia Bezerra da Silva.
A simplicidade da letra dá com
exatidão a medida do quanto estamos sob o domínio de autoridades e poderosos
que se guiam pelos piores intentos; o quanto vivemos atrelados a leis injustas,
voltadas para garantir a desigualdade e o aviltamento dos que trabalham e cobram
dignidade e decoro. Vide as novas legislações trabalhista e previdenciária.
Afundado num complexo descalabro
que envolve desonestidade, iniquidade, violência, crime organizado, políticos e
empresários emporcalhados, culto à esperteza e desvario administrativo, o país
e seus mandatários são uma espécie de sacrário de indignidades, depósito sem
fim de sedimentos de uma corrupção que se institucionalizou.
Estamos, pouco a pouco, com o
andar da Lava Jato, chegando ao ponto de fulgor. Semana próxima o juiz Sérgio Moro
interroga Lula, cumprindo-se o espetáculo midiático da operação Lava Jato.
Vamos ver o que se fará com Temer
e seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral.
Vivemos um tempo de incertezas,
uma era de mediocridade radiante e momentaneamente vitoriosa, uma idade de
hipocrisia hegemônica e, não há como esconder, cruel e que se expande.
E como já citei poesia valho-me
de Castro Alves para encerrar:
Existe um povo que a bandeira empresta
Pr'a cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
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