A corrupção como valor
nacional
![]() |
O jornalista norte-americano James
Reston traz em seu currículo a publicação do livro Artilharia da Imprensa. O
título é suficientemente elucidativo e indica exatamente o potencial do
jornalismo em agir como elemento de impacto, funcionando o noticiário como
petardos simbólicos.
Pois é exatamente esse canhoneio
que está fazendo surgir o agendamento de que este país não tem jeito. Ou seja:
o construto da convicção de que nossos líderes são todos uma massa de corruptos,
uma malta de facínoras que tem por único objetivo o uso patrimonialista do
Estado, a manipulação desse ser coletivo chamado de povo, e, claro, o
enriquecimento de si e de seus apaniguados.
Não devemos assumir a roupagem do
pessimismo como coisa absoluta, como o "não tem jeito", mas também é
necessário que a imprensa mantenha a vigilância.
Mas a ação jornalística – que tem
lá seus interesses em expor a corrupção de forma hiperbólica, acusando mais a
uns que a outros – tem razão ao anunciar que vivemos uma grave crise moral.
E que, sim, nossos líderes devem
ser no mínimo bastante vigiados pela sociedade civil, evitando-se ao mesmo
tempo a consolidação da ideia de que somos um país sem solução.
Na verdade, os usos e costumes dos bandidos
encastoados no poder – qualquer que seja essa manifestação de poder, estatal ou
iniciativa privada – sempre foram, desde os inícios desta nação, algo bastante
enraizado, forte, firme, essencializado.
A corrupção, a esperteza, o lucro
fácil, a vantagem tirada do cargo público, tudo isso tem-se imbricado a uma
certa escala de valores, chegando-se ao ponto de haver o elogio à malandragem,
a louvação da safadeza, as clarinadas que enaltecem o descaramento.
Eu, você, todos conhecemos tipos
de se utilizam da corrupção em qualquer nível: desvio de material da
repartição, uso de viaturas oficiais nos fins de semana, matreirices que vão
desde o mais anônimo contínuo ao mais graduado empreiteiro ou diretor de repartição.
Os líderes políticos são
diariamente expostos pelos jornais como literalmente maus elementos, o que
contraria seus discursos de salvadores da pátria, homens dignos e justos. Suas
ações esvaem os discursos de campanha.
Valho-me de Ruy Barbosa quando
alardeava que chegaria o tempo em que o homem teria vergonha de ser honesto tal
o consenso existente a favor da ladroagem. E esse tempo já houvera chegado.
Tanto que o tribuno já o recriminava no século 19.
As raízes desse mal se
aprofundaram e hoje as temos alastradas e sofisticadas. São grandes as forças
dos criminosos do poder. Espero que a sociedade, pela sua parcela que defende a
dignidade, se organize e os saiba punir.
Mas, sinceramente, não sei, não
sei, não sei...
Nenhum comentário:
Postar um comentário