sexta-feira, 14 de abril de 2017



 A corrupção como valor nacional




O jornalista norte-americano James Reston traz em seu currículo a publicação do livro Artilharia da Imprensa. O título é suficientemente elucidativo e indica exatamente o potencial do jornalismo em agir como elemento de impacto, funcionando o noticiário como petardos simbólicos. 

Pois é exatamente esse canhoneio que está fazendo surgir o agendamento de que este país não tem jeito. Ou seja: o construto da convicção de que nossos líderes são todos uma massa de corruptos, uma malta de facínoras que tem por único objetivo o uso patrimonialista do Estado, a manipulação desse ser coletivo chamado de povo, e, claro, o enriquecimento de si e de seus apaniguados. 

Não devemos assumir a roupagem do pessimismo como coisa absoluta, como o "não tem jeito", mas também é necessário que a imprensa mantenha a vigilância.

Mas a ação jornalística – que tem lá seus interesses em expor a corrupção de forma hiperbólica, acusando mais a uns que a outros – tem razão ao anunciar que vivemos uma grave crise moral. 

E que, sim, nossos líderes devem ser no mínimo bastante vigiados pela sociedade civil, evitando-se ao mesmo tempo a consolidação da ideia de que somos um país sem solução.

 Na verdade, os usos e costumes dos bandidos encastoados no poder – qualquer que seja essa manifestação de poder, estatal ou iniciativa privada – sempre foram, desde os inícios desta nação, algo bastante enraizado, forte, firme, essencializado. 

A corrupção, a esperteza, o lucro fácil, a vantagem tirada do cargo público, tudo isso tem-se imbricado a uma certa escala de valores, chegando-se ao ponto de haver o elogio à malandragem, a louvação da safadeza, as clarinadas que enaltecem o descaramento.

Eu, você, todos conhecemos tipos de se utilizam da corrupção em qualquer nível: desvio de material da repartição, uso de viaturas oficiais nos fins de semana, matreirices que vão desde o mais anônimo contínuo ao mais graduado empreiteiro ou diretor de repartição.

Os líderes políticos são diariamente expostos pelos jornais como literalmente maus elementos, o que contraria seus discursos de salvadores da pátria, homens dignos e justos. Suas ações esvaem os discursos de campanha.

Valho-me de Ruy Barbosa quando alardeava que chegaria o tempo em que o homem teria vergonha de ser honesto tal o consenso existente a favor da ladroagem. E esse tempo já houvera chegado. Tanto que o tribuno já o recriminava no século 19. 

As raízes desse mal se aprofundaram e hoje as temos alastradas e sofisticadas. São grandes as forças dos criminosos do poder. Espero que a sociedade, pela sua parcela que defende a dignidade, se organize e os saiba punir. 

Mas, sinceramente, não sei, não sei, não sei...


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