O uso correto
do papel crepom
Estamos em 1570. Ontem fui procurado por um macaco e um papagaio. O macaco, homem de aspecto
formal e respeitável, era uma pessoa de sólida constituição
apesar da idade, 76 anos; e inglês, asseverou com uma ponta de orgulho. O
papagaio, um legítimo espécime africano, era cinzento e, disse-me,
nascera em Paris.

Recebi-os
no vestíbulo e levei-os ao meu escritório, onde assentaram-se. Aceitaram café árabe que
importo de um amigo marroquino. Depois, conhaque e charutos.
Logo vi que eram homens do mundo, acostumados a finas recepções, pois
se serviam com desenvoltura . "Então, a que devo a honra? E quem lhos
indicou a mim?", quis saber.
Responderam
que fora um capitão-de-longo-curso e mencionaram o seu nome: Mestre Aplononius. "Ah! É um
velho conhecido", eu disse, e completei: "Viaja muito pelos mares da Tasmânia". Isto posto, fizeram
questão de se apresentar: o gorila disse ser grande estudioso de coisas
metafísicas, meditações extensas, pensamentos sibilantes e rotundas
conversações.
O
papagaio, asseverou-me, era um homem já muito vivido. Imagine,
salientou, que estivera pousado no ombro do próprio Sir Francis Drake,
com ele participando de grandes momentos e largas batalhas. Depois
viajara meio mundo; da Ásia Central à América, da Zelândia a Cipango;
visitara os países mais distantes e os povos mais obscuros. Afinal
aportara aqui, reunindo-se ao macaco e suas inquirições.
Mas,
então, eu quis saber: em que poderia ajudá-los? É simples, aduziram:
queriam saber se lhos poderia prover de informações e conhecimentos de
questão que consideravam vital à explicação da existência humana: queriam saber qual o uso correto do papel
crepom. Isso explicaria o sentido da vida, a razão de ser da existência humana, disseram.
Fiquei
pasmo: era realmente questão de alta indagação, da qual ainda não me
apercebera. Passamos então a lucubrar fabulosas teorias, fizemos
ingentes esforços de pensar, consultamos tratados de ontologia e as
filosofias mais distantes. Perda de tempo.
Sim: esqueci de dizer que a visita tivera início logo após o entardecer e agora já nos encontrávamos nos albores do dia seguinte. E nenhuma resposta nos acudia.
Sim: esqueci de dizer que a visita tivera início logo após o entardecer e agora já nos encontrávamos nos albores do dia seguinte. E nenhuma resposta nos acudia.
Havíamos
consumido uma caixa de charutos e três garrafas de conhaque e o
resultado era apenas uma terrível e acabrunhante dor de cabeça. Afinal,
cansados, os dois visitantes ilustres se retiraram e me deixaram com
essa grande inquietação que, sem dúvida, respondida, explicaria a razão
da existência humana: o uso correto do papel crepom.
Agora,
pouco tempo depois de sua saída, veio-me a ideia de que o uso correto
do pepel crepom diz respeito ao galopar dos cavalos. Sim, tem tudo a haver papel crepom e cavalos, não é mesmo? Percebi isso
quando um fiacre passava à minha porta, e o martelar das ferraduras
acuou meus ouvidos feridos pela dor de cabeça. Ao ter essa epifania
atirei-me em perseguição ao fiacre em um landau puxado por um dos meus
criados - não costumo usar animais em atos típicos de seres humanos -
até que o alcançamos, recém-estacionado.
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http://www.google.com.br/imgres?q=cavalo&hl=pt-BR&safe=off& |
Dirigi-me ao cavalo que puxava o fiacre a fim de que me explicasse o motivo da existência humana via uso correto do papel crepom. Alguém que se dizia seu dono postou-se contra mim. Chamei um dos meus lacaios que rosnou para ele, pondo-o a fugir. Desatrelei o honorável cavalo daquele horrível fiacre e coloquei-o no landau, trazendo-o à minha vivenda.
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Mossoró sem carnaval
Leio nas folhas que a prefeitura de Mossoró não vai gastar dinheiro com o carnaval. Não por decisão séria, caso pensado, visando o uso das verbas em cosias realmente importantes, mas por falta de dinheiro. Que por sua vez inexiste devido à incompetência da administração. Pelo menos evitou-se mais um desperdício.
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