quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Minha conversa com um macaco e um papagaio




O uso correto
do papel crepom



Estamos em 1570. Ontem fui procurado por um macaco e um  papagaio. O macaco, homem de aspecto formal e respeitável, era uma pessoa de sólida constituição apesar da idade, 76 anos; e inglês, asseverou com uma ponta de orgulho. O papagaio, um legítimo espécime africano, era cinzento e, disse-me, nascera em Paris.

Confesso não esperava a visita, especialmente de pessoas que não conhecia, mesmo sendo gente de alta qualidade e distintos procedimentos como logo percebi.

Recebi-os no vestíbulo e levei-os ao meu escritório, onde assentaram-se. Aceitaram café árabe que importo de um amigo marroquino. Depois, conhaque e charutos. Logo vi que eram homens do mundo, acostumados a finas recepções, pois se serviam com desenvoltura . "Então, a que devo a honra? E quem lhos indicou a mim?", quis saber.

Responderam que fora um capitão-de-longo-curso e mencionaram o seu nome: Mestre Aplononius. "Ah! É um velho conhecido", eu disse, e completei: "Viaja muito pelos mares da Tasmânia". Isto posto, fizeram questão de se apresentar: o gorila disse ser grande estudioso de coisas metafísicas, meditações extensas, pensamentos sibilantes e rotundas conversações.

O papagaio, asseverou-me, era um homem já muito vivido. Imagine, salientou, que estivera pousado no ombro do próprio Sir Francis Drake, com ele participando de grandes momentos e largas batalhas. Depois viajara meio mundo; da Ásia Central à América, da Zelândia a Cipango; visitara os países mais distantes e os povos mais obscuros. Afinal aportara aqui, reunindo-se ao macaco e suas inquirições.

Mas, então, eu quis saber: em que poderia ajudá-los? É simples, aduziram: queriam saber se lhos poderia prover de informações e conhecimentos de questão que consideravam vital à explicação da existência humana: queriam saber qual o uso correto do papel crepom. Isso explicaria o sentido da vida, a razão de ser da existência humana, disseram.

Fiquei pasmo: era realmente questão de alta indagação, da qual ainda não me apercebera. Passamos então a lucubrar fabulosas teorias, fizemos ingentes esforços de pensar, consultamos tratados de ontologia e as filosofias mais distantes. Perda de tempo. 

Sim: esqueci de dizer que a visita tivera início logo após o entardecer e agora já nos encontrávamos nos albores do dia seguinte. E nenhuma resposta nos acudia.

Havíamos consumido uma caixa de charutos e três garrafas de conhaque e o resultado era apenas uma terrível e acabrunhante dor de cabeça. Afinal, cansados, os dois visitantes ilustres se retiraram e me deixaram com essa grande inquietação que, sem dúvida, respondida, explicaria a razão da existência humana: o uso correto do papel crepom.

Agora, pouco tempo depois de sua saída, veio-me a ideia de que o uso correto do pepel crepom diz respeito ao galopar dos cavalos. Sim, tem tudo a haver papel crepom e cavalos, não é mesmo? Percebi isso quando um fiacre passava à minha porta, e o martelar das ferraduras acuou meus ouvidos feridos pela dor de cabeça. Ao ter essa epifania atirei-me em  perseguição ao fiacre em um landau puxado por um dos meus criados - não costumo usar animais em atos típicos de seres humanos - até que o alcançamos, recém-estacionado.
http://www.google.com.br/imgres?q=cavalo&hl=pt-BR&safe=off&amp

Dirigi-me ao cavalo que puxava o fiacre a fim de que me explicasse o motivo da existência humana via  uso correto do papel crepom. Alguém que se dizia seu dono postou-se contra mim. Chamei um dos meus lacaios que rosnou para ele, pondo-o a fugir. Desatrelei o honorável cavalo daquele horrível fiacre e coloquei-o no landau, trazendo-o à minha vivenda. 

Neste momento estamos às voltas com um litro de uísque irlandês. Altos estudos. Depois falaremos do uso correto do papel crepom. E, garanto, descobrirei o sentido da vida. Informarei tudo a você no momento certo. 

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Mossoró sem carnaval

Leio nas folhas que a prefeitura de Mossoró não vai gastar dinheiro com o carnaval. Não por decisão séria, caso pensado, visando o uso das verbas em cosias realmente importantes, mas por falta de dinheiro. Que por sua vez inexiste devido à incompetência da administração. Pelo menos evitou-se mais um desperdício. 



 

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