sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Nelson Rodrigues e os Rolling Stones

You can’t always get what you want
O título desta crônica foi tirado de composição dos Rolling Stones. Em tradução livre, quer dizer mais ou menos que você não pode ter tudo o que deseja. E tem tudo a haver com a história que vou contar.
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Seguinte: corria o ano de 1975 e eu era repórter do Diário de Natal, editoria de polícia. Certa vez, procurando telegramas da agências noticiosas que tratassem de assuntos da área policial encontrei uma história incrível. Rodriguiana, totalmente rodriguiana. 
Dizia o seguinte o tal telegrama: um sujeito, batendo pernas por uma rua do Rio de Janeiro, deu de cara com uma cena que o deslumbrou: mulher gravemente bela varria a calçada da casa. O olhar do homem deslumbrou-se com a visão, que gerou nele uma epifania de encantamento; um misto de desejo e ao mesmo tempo respeito sagrado por aquela vênus. 
A partir de então passou a cumprir com seu ritual de ânsias platônicas. A mulher passou a ser a santa deliciosa, a madona de prazeres ocultos, proibidos encantos. O interesse virou obsessão, a obsessão transformou-se em decisão: estava pronto, iria dirigir-se a ela. 
E se assim pensou melhor o fez: certo início de noite, munido de revólver, invadiu a casa e ali encontrou-a. A ela e ao marido. Na sala.  Pego de surpresa, o casal não reagiu. Homem e mulher pediram que se fosse. Caso quisesse assaltar, poderia levar tudo. 
Possesso de todas as vontade, embriagado de licenças, mandou que o casal se calasse. Eles obedeceram. Então, ele mandou: queria que a mulher tirasse a roupa: lentamente. Foi inútil o pedido para que não, não fizesse aquilo. Ele determinou, a arma tremendo na mão e não houve jeito: a mulher obedeceu, trêmula.
Ela livrou-se primeiro da blusa, depois da saia; do sutiã em seguida, e então da peça mais íntima, ao sul do seu corpo fêmeo.  A calcinha caiu ao chão. Afinal, após todas as angústias vividas só para si, ele a viu nua: seios opulentos, ancas suntuosas, o vértice feminino adornado de delicado e denso veludo negro. 
E então, aconteceu: tonto de paixão, atordoado de beleza, ofegante daquela sórdida alegria, o coração desesperado em síncope de blue, ele deixou cair a arma, pediu perdão ao casal, girou nos pés e caiu morto daquela encantação maligna e deslumbrante.

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