A foto como instante, irrepetível ato
Por Pedro
Jales
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Emanoel Barreto: "Sépalas" |
A fotografia lida com o instante. É o momento escrito em luzes,
cores e, sombras. Ela capta o instante, o fugaz, logo, seu objeto estético é o tempo. A combinação de luz, sombra e formas capturam uma fatia,
única, da tessitura do tempo.
Ao compararmos os objetos da escultura e da arquitetura, a teoria nos
ensina que a primeira lida com o
volume, enquanto na segunda o objeto é o espaço. Levando a comparação para a
pintura versus fotografia, percebe-se que o pitoresco não é o objeto estético da
fotografia; a fotografia pode até agenciar
a apreensão do pitoresco dispondo-a para a pintura, mas só de passagem.
Na fotografia o trabalho, a manipulação sobre o objeto se dá numa margem muito estreita, ferindo
o limite do escopo da pintura, mesmo que seja uma pintura expressa em pixels.
Logo, não existe “criação”, ou melhor, o processo completo
entre a inspiração, a apreensão do objeto, e a consecução, é instantâneo, estampando
a emoção diretamente do nível subjetivo. O lapso entre a percepção e a captura
é crítico, pois uma foto muito estudada invade o objeto estético do retratista,
do escopo da pintura, portanto. Quanto mais se demora estudando luzes, ângulos
e enquadramentos, mais se invade o
âmbito da pintura. Logo, quanto menos interferência técnica, quanto mais
automática a câmara, quando mais instantânea a foto, mais pura a obra. No
limite, a qualidade técnica fica a cargo dos técnicos que constroem a câmara.
Dizer que a manipulação digital matou a fotografia, me parece
um equívoco: a manipulação digital expandiu as fronteiras da pintura, do
trabalho com cores continuando e ampliando a inspiração, do laborar, do
desbastar e polir, do construir experiencial sobre o objeto estético. Criou
novos métodos e técnicas. Porém, as técnicas construtivas da fotografia
digital, a tecnologia tornada acessível, também ampliaram, e ainda vem muito por
aí, enormemente as possibilidades da fotografia. Vide por exemplo, as
fantásticas nova fotografias esportivas, que reproduzem instantes muito mais
curtos, antes inimagináveis, ou dificílimos de se captar.
A fotografia como linguagem estética, é impressionista. Quando
deixa de sê-lo, passa a ser pintura. É de fora para dentro, projetando uma
disposição para o estético, uma entrega, uma permanente atenção ao mundo e ao
tempo, com seu fluir e sua tessitura, enquanto objeto estético. A experiência
estética é subconsciente; não há a interpretação criativa, não há necessidade do experienciar emotivo para
produzir a obra. É o “olhar fotográfico”.
A experiência se desperta num nível
profundo, e se projeta no objeto fotografado. Ela dribla e escamoteia a emoção vivenciada,
observável, pois o momento produz uma semente de emoção, própria do tempo, das
condições temporárias locais, que transcende o conjunto emocional diretor do comportamento e das sensações.
A fotografia da bailarina não é a dança. A fotografia da
expressão do ator não é a sua emoção. A fotografia precisa de um quadro famoso
não é a pintura. A fotografia do animal em movimento não é o movimento do
animal, e assim, cada objeto estético se abriga em sua própria arte, restando à
fotografia apenas o instante.
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