quarta-feira, 28 de maio de 2014

O povo como gladiador na arena das ruas




 Os que vão morrer te saúdam 

Prepara-se o país para a festiva tragédia da Copa do Mundo. De um lado o governo, os partidos políticos, os interesses da Fifa que nos trouxeram o mal-afortunado evento; do outro, manifestações de sociedade civil gritando, protestando, exibindo o flagrante erro que é a realização do torneio.

Ninguém em sã consciência pensará que tudo acontecerá às mil maravilhas. Mesmo os mais temerários, irresponsáveis, inconsequentes, devem estar sentindo que estamos às vésperas de ver as ruas a rugir. A questão é que não dá mais para recuar: já está tudo definido; agora é entrar na arena do asfalto e dizer como os gladiadores em Roma: “Ave Imperator, morituri te salutant.” 

 A tradução clássica da frase latina é: “Ave César, os que vão morrer te saúdam.” Sim, é isso: a arena das ruas terá o drama, enquanto as arenas decoradas e assépticas verão o festim dos gritos de gol. 

Tudo tão trágico, tão terrível, tão previsível. Tragicamente perfeita a trama histórica, o conflito de interesses, a desavença entre o que a sociedade quer e precisa e o que os interesses minoritários levaram a efeito. 

 Os que vão morrer, de alguma forma morrer em desencanto, em repúdio, em indignação, já avisam que haverá resistência e lamentosas procissões, gritos e sufocação à força de gás lacrimogêneo. E, de forma soturna, saúdam a sombria alegria daqueles que desencadearam toda a intentona.



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