quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014



O “paciente”, o médico e o remédio

--- Walter Medeiros* 

Imenso Céu de colorido bíblico – aquele colorido encantador das fotos que vemos nas revistas religiosas – um vento frio agradável das seis horas da manhã, muitas nuvens carregadas, grandes poças d’água resultante da chuva da madrugada, flores brilhando em suas mais belas tonalidades, o perfume de rosas que vem de vários lugares, pássaros cantando felizes com o sinal de inverno em pleno verão, assim caminhamos pelo calçadão numa manhã de quarta-feira. Ao longo de toda caminhada tem também dezenas de gatos desgarrados e sem donos que povoam o pé da cerca do belo Parque das Dunas, em Natal.

Na caminhada, gente de todas as idades, todos os tipos, alegres, felizes, sérios, carrancudos, uns andam, uns se arrastam, outros correm, alguns vão de bicicleta, todos preocupados com a saúde ou com a aparência. Os cardiologistas mandam criar esses hábitos, para evitar surpresas desagradáveis ao funcionamento do coração, cada um de acordo com o seu estado. E no passo a passo sempre surgem as conversas e relatos de experiências que tiveram, sustos que passaram, verdades que encontraram vida afora.

Refletindo sobre a vida, que está diretamente relacionada com o nosso tempo, procuro em cada passo algo inesquecível que justifique um valor para aquele momento. Ou seja, dali a minutos, horas, dias, anos, o que terei para dizer exatamente dessa caminhada de hoje, para que ela tenha valido à pena, para que a vida tenha significado, para que me sinta alguém. Se chove, aquela água me marca para sempre; se faz sol, o calor tem de ficar na memória; como ficaram na memória tantos momentos da vida.

Um amigo aproxima-se no mesmo rumo, porém com passos mais apressados e diminui instantaneamente o ritmo para perguntar como estou me sentindo com as caminhadas matinais. Digo-lhe que o resultado já está aparecendo e ele conta também sua experiência de diabético. Faz-me lembrar outro amigo de trabalho que há uns 25 anos teve um problema cardíaco e precisava emagrecer. Emagreceu somente com caminhadas e aquilo ficou fortemente na nossa lembrança. Aí veio a relação médico x paciente na história.

Costumo lembrar que o termo “paciente” surgiu no tempo em que hospital era um lugar que recebiam as pessoas prá morrer. As doenças não tinham remédio nem terapias à altura eram ainda utilizadas e existia um clima de resignação. Era, então, uma questão de paciência esperar a morte. Mas o termo foi sendo usado através do tempo e mesmo que consiga tratamento e cura das doenças, as pessoas são chamadas de pacientes. Menos pelas doenças, mas pelo estado dos serviços de saúde, tanto públicos como privados, o termo paciente finda sendo cabível e adequado; é o jeito.

Naquela rápida troca de experiência no calçadão, sem impedir os passos de cada um, lembrei que a caminhada tem efeito da mesma forma que a auto-hemoterapia, um estimulante natural do sistema imunológico, conforme explica o Dr. Luiz Moura. A natureza faz sua parte, garantindo a saúde e mostrando que os medicamentos às vezes são receitados mesmo sem as pessoas precisarem. É das doenças que vivem os laboratórios.

Mas aquele meu amigo explica imediatamente: “tenho diabetes e somente com caminhada deixei de precisar dos remédios”. Assim ele evita intoxicação para o organismo. Digo-lhe, então, que esses remédios de farmácia, quando se vê os efeitos colaterais dá medo. Ouvia atentamente, e ele rapidamente continuou: “meu médico, vez por outra me diz que tem um remédio novo, que eu devia experimentar, mas eu digo que vou continuar caminhando”. Aproveita prá dizer uma frase interessante sobre a caminhada: “isso é um remédio; é o meu remédio”.

*Jornalista

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