segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ligue a TV e escolha seu medicamento

A persistirem os sintomas procure um médico...

Na televisão são muito comuns anúncios de medicamentos, seguidos da advertência que dá título a este artigo. No Brasil a TV assumiu um papel de grande relevo especialmente por dois motivos: primeiro, o televisor é um bem de consumo durável ao contrário do jornal; após lido o que interessa não terá mais qualquer utilidade; segundo, a maioria dos brasileiros não tem dinheiro para outra forma de lazer que não seja assistir televisão.
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 Isso atribuiu ao veículo TV em nosso país um grande poder já que a televisão, com seu discurso de apelo direto, assumiu o papel de instituição prescritiva, ou seja: de alguma forma determina formas de comportamento, dita moda, induz compreensões de mundo.

Resultado: a publicidade médica tomou a televisão como parceira e a transformou em consultório. Mais resultado: celebridades como Pelé passam a recomendar esse ou aquele produto de uso medicinal, pelo simples fato de que estão associados à sua figura. Pelé anunciava um composto chamado Vitasay, como se fora Vitasay o elemento responsável por sua excelente forma física, o elemento potente que havia garantido a seus músculos a capacidade para chegar onde chegou. Não era verdade. Pelé tinha talento e exercitou-se muito para se manter em forma.

Atores e atrizes mais ou menos famosos também exercitam esse tipo de medicina televisiva. E até anônimos também fazem esses anúncios. É que o poder televisivo foi de tal forma construído, que a publicidade médica, mesmo feita por anônimos, passa por serviço; aquele remédio não está sendo "vendido", você está sendo "informado" de que comprando um determinado comprimido ou xarope ou qualquer-coisa-por-aí, estará tomando um bom medicamento. 

É aí que entra, muitas vezes, a advertência, na verdade uma matreirice para livrar o fabricante de qualquer responsabilidade: "A persistirem os sintomas procure um médico". Espere aí: você é induzido a tomar uma beberagem qualquer para se curar, depois a tal beberagem não faz efeito e somente então você deve ir ao médico? Há aí algo que varia entre o insano, o surrealista e o perverso.

O insano é você ser induzido ao consumo de uma droga por alguém não qualificado; o surrealista é a forma com que a dramaturgia publicitária envolve numa atmosfera quase que de sonho a promessa de cura; o perverso é que muitas vezes a pessoa vai mesmo comprar aquilo simplesmente porque não tem plano de saúde, o sistema público de saúde não funciona e o coitado não tem dinheiro para uma consulta particular.

Estranho país esse, onde medicina é vendida pela TV. Não foi proibido anúncio de cigarro e de bebidas alcoólicas fortes? Por que também não se proíbe essa medicina televisiva?


E se você tem mania de ver e acreditar em tudo que se passa na televisão já sabe: a persistirem esses sintomas procure um médico...

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