quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cuidado, ha perigo na esquina



Uma estranha realidade
Ao sair ontem de minha tipografia, mais de dez da noite, não supunha o que me aconteceria. Foi assim: caminhando pela rua mal iluminada pelos lampiões de gás, percebi que era seguido por um orangotango de má catadura. Nos últimos tempos era sempre assim: animais de todos os tipos nos assediavam, pediam esmolas, praticavam pequenos furtos, assaltavam, invadiam casas.
 
http://natgeotv.com/pt/eu-predador/galerias/animais-perigosos
Então, olhado para trás, notei que ele se aproximava rapidamente. Temendo pelo pior entrei num bar onde havia unicamente seres humanos. O orangotango, sentindo que estava em desvantagem, recuou, meteu-se na escuridão e sumiu. Comentei com uns homens a respeito e todos confirmaram: também sentiam-se perseguidos por bichos, como onças e antas, todos agressivos.

Um deles, aparentando ser o mais esperto de todos, disse que a presença dos bichos era decorrência da destruição das florestas pelo homem. Assim, bestas as mais variadas tinham vindo para a cidade, estabelecendo-se nos arredores e formando grandes povoados. 

 Agora, organizados em bandos, atacavam a todos os homens.
Saí do bar depois de uns quinze minutos. O macaco não estava perto. Eu temia que ele tivesse se escondido nas cercanias, numa espécie de gesto tático ou seja: fingira ter fugido, mas havia voltado para me pegar em momento oportuno. Mas, não: tinha mesmo ido embora.

Saí a caminhar e esperava chegar em casa o mais rápido possível. Após meia hora cheguei à casa e tive terrível surpresa: minha casa havia sido tomada por grande número de macacos, papagaios, quatis e um tigre. Entrei na sala e ali estava, sentado no sofá, um grande hipopótamo. Era o chefe do bando.

Perguntei-lhe o queria e ele: “Queremos apenas a sua casa. Somos animais sem teto. E saia logo daqui, por favor.”

Respondi que não iria deixar meu lar nas mãos ou melhor nas patas de tão temíveis invasores. Ouvindo isso ele gritou uma ordem e fui dominado por um gorila, que atirou-me ao meio da rua. Tentei voltar, mas fui expulso novamente, agora com grande violência. 

Uma onça perseguiu-me e corri o mais rápido que podia, até chegar a um bairro distante, um arrabalde. Ali encontrei uma multidão de humanos, todos também despejados de suas casas. E mais: a cada momento outros e outros seres humanos chegavam ao bairro, todos também atirados de suas moradias.

Ficamos a noite inteira ao relento, pois as casas haviam sido destruídas pelos animais. Dia seguinte reunimo-nos e resolvemos atacar os bichos e recuperar nossas habitações. Marchamos todos unidos, mas fomos recebidos pela tropa de choque dos bichos e dissolvida nossa manifestação a golpes de cassetete. 

Recuamos para nosso bairro periférico e passamos a morar em choupanas. Desde então temos tramado planos para voltar às nossas casas. Mas, sempre que intentamos uma surtida, somos repelidos pela polícia dos bichos. Não sei mais o que fazer: temo que doravante e humanidade tenha que correr para as florestas e ali tentar sobreviver.

Mas logo alguém me advertiu: não há mais florestas. Nós acabamos com todas, lembra? Entendi então que estamos perdidos: não temos mais casas ou matas. Diante disso, uma certeza: para sobreviver precisamos aprender a galopar.

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