Meu amigo, o louco das ruas
Vejo sempre na Roberto Freire a
figura do louco. Alto, pele escura, cabelo rapado, usa apenas um calção
sujíssimo, certamente sua única roupa. Uma vida humílima e livre. Solto. Como os
pardais e os cães ditos vadios.
Às vezes está no canteiro central cavando com
as mãos um buraco junto aos arbustos. Ali se mete, enrodilhado, e dorme.
Outras vezes está naquilo que
certamente entende como sendo a sua casa: uma escada de ferro do lado de fora
de uma farmácia. O detalhe – sublime absurdo – , é que a escada em vez
de levar a uma porta, encaminhará quem a subir a uma parede e pronto. Quem subir vai dar de cara com a maciça parede. A escada que leva a lugar nenhum é a grande saída do louco. Alis, sob a escada, ele
arrumou umas caixas e nelas se mete à noite, protegido pelo seu pobre e lindo teto de papelão.
Nada mais poético, patético e terrível: a condição
humana exposta a quem tiver olhos para ouvir, ouvir aquela história de vida. Sim
porque aquela é uma vida que não pode ser contada, mas compreendida com o ouvido
do olhar. Se aqui aparentemente eu a esteja contando em palavras, na verdade eu a
conto com as palavras do olhar perplexo menos que com as palavras do texto.
Incrível e maravilhoso louco;
necessário e precioso maluco. Ele é meu amigo, mesmo que não saiba que lhe
quero bem.
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