quinta-feira, 21 de março de 2013



Meu amigo, o louco das ruas

Vejo sempre na Roberto Freire a figura do louco. Alto, pele escura, cabelo rapado, usa apenas um calção sujíssimo, certamente sua única roupa. Uma vida humílima e livre. Solto. Como os pardais e os cães ditos vadios.

 Às vezes está no canteiro central cavando com as mãos um buraco junto aos arbustos. Ali se mete, enrodilhado, e dorme.

Outras vezes está naquilo que certamente entende como sendo a sua casa: uma escada de ferro do lado de fora de uma farmácia. O detalhe – sublime absurdo – , é que a escada em vez de levar a uma porta, encaminhará quem a subir a uma parede e pronto. Quem subir vai dar de cara com a maciça parede. A escada que leva a lugar nenhum é a grande saída do louco. Alis, sob a escada, ele arrumou umas caixas e nelas se mete à noite, protegido pelo seu pobre e lindo teto de papelão.

Nada mais poético, patético e terrível: a condição humana exposta a quem tiver olhos para ouvir, ouvir aquela história de vida. Sim porque aquela é uma vida que não pode ser contada, mas compreendida com o ouvido do olhar. Se aqui aparentemente eu a esteja contando em palavras, na verdade eu a conto com as palavras do olhar perplexo menos que com as palavras do texto.

Incrível e maravilhoso louco; necessário e precioso maluco. Ele é meu amigo, mesmo que não saiba que lhe quero bem.





Nenhum comentário: