sábado, 6 de dezembro de 2008

Foto: Thaís Emy Ohata
De como resolver as coisas num país, calando-se a palavra
Emanoel Barreto

Tempos difíceis - As coisas no País não estavam nada boas. A inflação campeava, o desemprego crescia e a violência tornava-se institucional. As pessoas não agüentavam mais e cresciam os protestos proporcionalmente à ascensão do descalabro. Os partidos de oposição, minoritários, pouco ou quase nada podiam fazer.

Insatisfeito com as mobilizações, atos públicos, passeatas, gritos e manifestações do povo desesperado, o Governo fez aprovar uma lei: por ela, ficava determinado que cada pessoa teria um limite máximo de palavras em seu repertório. E quanto mais se falasse mal do governo, mais o estoque de palavras iria se acabando, até que todos ficariam mudos. Claro, quem falasse a favor, ganharia bônus e até aumentaria o vocabulário, passando até a conhecer termos sofisticados, já pensou?

Sim: depois de mudo, previa a lei, ninguém poderia se comunicar usando aquele sistema dos surdos-mudos, lembra? Era pena de morte na certa. Quem quisesse experimentar, que tentasse. Todos se curvaram.

E assim, a lei entrou em vigor logo depois de ser aprovada. Em menos de seis meses todo o povo estava mudo. Até os bandidos ficaram sem poder falar. Os bandidos não gostavam da ação da polícia, que mesmo corrompida os atacava. E como os bandidos reclamavam, ficaram também mudos. Resultado: ninguém escapou, até que afinal o Governo sentiu-se satisfeito.

Mas conseqüências não-programadas logo se fizeram ouvir: como a comunicação dos surdos-mudos estava proibida e somente os gestos básicos, esses que a gente faz para chamar alguém ou dar adeus, não conseguem uma comunicação muito eficiente, instalou-se o caos.

As fábricas pararam, os bancos deixaram de funcionar e escolas, hospitais, lojas enfim, tudo desmoronou. Os únicos lugares que ainda funcionavam eram bares, boates, motéis e bordéis, onde a voz não é essencial. Nos bares e etc, os músicos, impedidos de cantar, tocavam e isso garantia o público. Ou seja: somente em ambientes de baderna as coisas funcionavam bem.

O Governo então compreendeu que não poderia mais conviver com aquela situação. Todos bêbados e sem trabalhar. Prestes a chegar à bancarrota, o Governo decidiu: revogue-se a lei do silêncio. Todos poderão falar. Mas, de agora em diante, estarão impedidos de pensar.

ZOORÓSCOPO

TARTARUGA - Em matéria de preguiça são imbatíveis. Portanto, os prenúncios indicam que jamais chegarão a ganhar dinheiro, a não ser em loterias ou jogos de azar. No trabalho serão excelentes incapazes; na vida, eternos sonolentos.

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