De
ditadura e de democracia
Poder,
diz definição simples mas de compressão bastante clara, é a
capacidade que um homem ou grupo de homens tem de levar adiante seus
intentos, mesmo encontrando oposição. Tomando-se unicamente tal aspecto,
vai desde o bêbado que na esquina brande uma arma contra pessoas
indefesas - é o poder momentâneo, ilegal e ilegítimo - e chega ao
governo que assesta tropas e armas contra governos inimigos ou seus
próprios cidadãos. Temos aí então o Poder: manifestação política
institucionalizada num Estado e tornada legítima pelo fato mesmo dessa
institucionalização, ainda que injusta e inaceitável como ocorre nas
ditaduras.
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Atenho-me
às ditaduras em suas diveras manifestações. Nenhuma ditadura é boa,
seja de direita, seja autoproclamada de esquerda. Admitir ditaduras é
atribuir a um grupo de homens uma espécie de competência quase divina de
saber o que é o melhor e, por consequência, o pior para um povo. É
alegar a alguém a condição de grande líder, condottiero, grande irmão,
timoneiro, a figura mitificada de Presidente nos Estados Unidos, coisas
do tipo.
Há
também uma ditadura imperceptível, que age de maneira suave, permite a
comunicação e a aparente discordância. É a ditadura da democracia
formal, essa em que vivemos: podemos falar contra o governo, jornais
circulam livremente, é possível fazer passeatas, há partidos políticos,
pode-se viajar sem maiores problemas, há liberdade de religião e de
organização. Temos assim a sensação de democracia, esse "poder existir enquanto
cidadão", sujeito de direito pleno.
Mas,
onde está a ditadura então, se podemos fazer tudo? Muito simples: os
meios de comunicação pertencem a quem tem dinheiro para mantê-los e
podem se organizar em oligopólios que controlam o que deve ou não ser
divulgado. E esses mesmos meios de comunicação de massa se encarregam
de, ideologicamente, representar o mundo social como status quo perfeito
e acabado: escamoteiam a realidade das desigualdade de classes e
difundem que pequenas modificações conjunturais são como que uma espécie
de concessão dos poderosos àquela massa a quem chamamos povo.
Toda ditadura, até mesmo a ditadura da democracia
formal, busca se impor como se essa imposição ocorresse naturalmente e
fosse parte da paisagem social cotidiana, respirável, uma espécie de ar
político. Para tanto, naturalizam sua propaganda como se fosse prestação
de serviço e se afirmam como quadro ideal onde se deve passar a vida,
adequada, ajustada a tal ideário.
Países como a Coreia do Norte,
Mianmar, Cuba, só para ficar nesses três, também são ditaduras; equívoco
histórico, desvio doutrinário da luta por sociedades mais justas. Por
sua vez os EUA, como paradigma imposto de liberdade, escravizam povos
aos seus interesses econômicos e levam o inferno aonde quer que suas
tropas cheguem em nome da Liberdade.
A democracia não é situação pronta e acabada. É processo, é uma espécie de combate civil, avanços de posição, criação de uma nova moral política, conscientização de que aqueles a quem se chama povo podem um dia despertar, consciência de que é preciso esse despertar. É preciso habilidade e força. É preciso. É preciso.