domingo, 21 de setembro de 2014

O poder que pode e arrebenta



De ditadura e de democracia 

Poder, diz definição simples mas de compressão bastante clara, é a capacidade que um homem ou grupo de homens tem de levar adiante seus intentos, mesmo encontrando oposição. Tomando-se unicamente tal aspecto, vai desde o bêbado que na esquina brande uma arma contra pessoas indefesas - é o poder momentâneo, ilegal e ilegítimo - e chega ao governo que assesta tropas e armas contra governos inimigos ou seus próprios cidadãos. Temos aí então o Poder: manifestação política institucionalizada num Estado e tornada legítima pelo fato mesmo dessa institucionalização, ainda que injusta e inaceitável como ocorre nas ditaduras.
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Atenho-me às ditaduras em suas diveras manifestações. Nenhuma ditadura é boa, seja de direita, seja autoproclamada de esquerda. Admitir ditaduras é atribuir a um grupo de homens uma espécie de competência quase divina de saber o que é o melhor e, por consequência, o pior para um povo. É alegar a alguém a condição de grande líder, condottiero, grande irmão, timoneiro, a figura mitificada de Presidente nos Estados Unidos, coisas do tipo. 

Há também uma ditadura imperceptível, que age de maneira suave, permite a comunicação e a aparente discordância. É a ditadura da democracia formal, essa em que vivemos: podemos falar contra o governo, jornais circulam livremente, é possível fazer passeatas, há partidos políticos, pode-se viajar sem maiores problemas, há liberdade de religião e de organização. Temos assim a sensação de democracia, esse "poder existir enquanto cidadão",  sujeito de direito pleno.

Mas, onde está a ditadura então, se podemos fazer tudo? Muito simples: os meios de comunicação pertencem a quem tem dinheiro para mantê-los e podem se organizar em oligopólios que controlam o que deve ou não ser divulgado. E esses mesmos meios de comunicação de massa se encarregam de, ideologicamente, representar o mundo social como status quo perfeito e acabado: escamoteiam a realidade das desigualdade de classes e difundem que pequenas modificações conjunturais são como que uma espécie de concessão dos poderosos àquela massa a quem chamamos povo.

Toda ditadura, até mesmo a ditadura da democracia formal, busca se impor como se essa imposição ocorresse naturalmente e fosse parte da paisagem social cotidiana, respirável, uma espécie de ar político. Para tanto, naturalizam sua propaganda como se fosse prestação de serviço e se afirmam como quadro ideal onde se deve passar a vida, adequada, ajustada a tal ideário.

Países como a Coreia do Norte, Mianmar, Cuba, só para ficar nesses três, também são ditaduras; equívoco histórico, desvio doutrinário da luta por sociedades mais justas. Por sua vez os EUA, como paradigma imposto de liberdade, escravizam povos aos seus interesses econômicos e levam o inferno aonde quer que suas tropas cheguem em nome da Liberdade. 

Mas é nessa realidade que temos que nos inserir e lutar. Ocupar espaços políticos, proporcionar mudanças, promover um discurso libertário via sociedade civil e chegar aos parlamentos e ao Executivo. 

A democracia não é situação pronta e acabada. É processo, é uma espécie de combate civil, avanços de posição, criação de uma nova moral política, conscientização de que aqueles a quem se chama povo podem um dia despertar, consciência de que é preciso esse despertar. É preciso habilidade e força. É preciso. É preciso.